Al-Masmak, onde a Arábia Saudita começou
Visitar a Arábia Saudita é sempre no mínimo curioso, afinal não são poucas as diferenças entre este país e o meu de origem (Brasil) e escolha (Alemanha): vestimentas, mulheres cobertas , tempestades de areia, arquitetura intrigante.
Tudo isso faz com que uma viagem à Arábia saudita sempre me faça voltar com mais e mais histórias.
Uma das mais interessantes aconteceu aqui em frente à Fortaleza de Al-Masmak em 2010, (já vou contar a história da fortaleza!) quando fui abordado ao sair por um grupo de jovens mulheres (sim, dava para perceber pela voz e pelos olhos). Conversar com mulheres sempre foi algo que me foi aconselhado a evitar a todo custo por todos (não apenas por minha esposa), inclusive pelo pessoal da Câmara de Comércio da Alemanha, da qual um dos representantes estava ao meu lado nesse momento (vou chamá-lo de Hans).
Assim que este grupo se aproximou, me cercaram e perguntaram de onde eu era e se eu tinha aprendido sobre a fortaleza e o local.
Afirmei que era do Brasil e que sim, eu havia visitando o museu (para o pânico do Hans, que imediatamente insistia que devíamos nos retirar).
Em inglês perfeito com sotaque britânico, a mais próxima das moças me perguntou em tom muito sério:
– E o qual a sua opinião sobre o que é feito aqui neste local?
Minha resposta foi honesta e em relação ao museu e à fortaleza. Disse que me sentia feliz por ver um povo mantendo suas história e tradições e apesar de estar envolto em riqueza, ainda desejar promover sua cultura.
Ficou claro que minha resposta não agradou. De imediato todas começaram a falar juntas e mostraram-se claramente irritadas. Foi a gota d’água: Hans me puxou pelo braço e batemos em retirada sem entender nada do que havia acontecido. Afinal haviam elas se irritado por eu ter elogiado os esforços do governo saudita em preservar sua história em meio à uma cidade em franco desenvolvimento?
No dia seguinte tudo ficou claro, quando Hans pela manhã ligou para o meu hotel e me enviou o recado de que a pergunta sobre o que eu achava do que ali era feito se referia não à fortaleza, mas sim em relação à praça que fica à sua frente (Praça Deera, também conhecida como “chop-chop”), que é o local onde acontecem as execuções de penas como cortar a mão de ladrões. E é claro o mal entendido com a minha reposta de que estava feliz em ver preservada as tradições locais não foi de encontro ao esperado…
Agora vamos deixar minhas histórias de viagem de lado e vamos à fortaleza!
Al-Masmak
Al-Masmak, em árabe significa “edifício fortificado”, um nome perfeito já que mais do que uma fortaleza, Al-Masmak servia de centro administrativo e residência palacial desde sua construção em 1865.
Localizada bem no centro de Riad, o seu papel administrativo na história moderna da Arábia Saudita foi importante até a mudança do palácio real para o palácio Murabba.
A fortaleza foi o ponto central da conquista e unificação da Arábia Saudita por Amir Abdulaziz bin Abdul Rahman bin Faisal Al Saud.
Em 1902, após sair de seu exílio no Kuwait junto com um pequeno grupo de soldados, ele se dirigiu à fortaleza com o intuito de tomá-la à força.
Como não possuía muitas tropas, Al Saud se escondeu de todas as maneiras possíveis enquanto recrutava mais soldados nos vilarejos que passava, tentando se aproximar de Rijad sem ser percebido.
Quando afinal se aproximou da cidade (em um ato contado de muitas maneira, porém sempre relatando a bravura de Al Saudi), ele conseguiu passar pelo que ainda existia da antigas muralhas da cidade (destruídas em 1891) durante a noite sem derramar sangue e deu combate apenas a fortaleza de AL-Masmak onde se encontrava o grosso das tropas locais.
LEGENDA VÍDEO: A invasão se deu em boa parte pela pequena porta de comunicação que ainda existe.
A tomada de Al-Masmak
Al Saudi conseguiu não somente dominar a cidade, como a própria fortaleza caiu com relativamente poucas baixas devido a surpresa com que foram pegos.
De imediato Al Saudi estabeleceu a fortaleza como ponto central de controle em seu objetivo de criar o terceiro estado Saudita.
Um de seus comandos imediatos foi o de reconstruir as muralhas da cidade.
Comando esse que foi de acordo com o museu local cumprido em 40 dias com muros de mais de 7 metros de altura, incluindo 16 torres de 10 a 13 metros de altura e é claro fortes portas de barbacã.
Hoje já não existem mais traços desses muros que foram demolidos em 1950.
Palácio e Centro administrativo
Como palácio e centro de poder, fica claro, em comparação aos palácios e castelos Europeus, indianos e Chineses o modesto início do estado Saudita. Em especial quando se compara com os gigantesco palácios de mais de 100 quartos tão comuns hoje na Arábia Saudita, muitas vezes pertencentes a membros distantes da família real.
As salas são simples e a decoração espartana existindo muitos poucos materiais, além de madeira e barro.
A parte Residencial ficava mais próxima ao centro da fortaleza, enquanto a administrativa junto a entrada e a mesquita aberta ao público.
Material
A fortaleza é feita de barro (clay) e o que eles chamam de “tijolo de lama”.
O que se sente quando se caminha pela fortaleza é que este material controla bem a temperatura interna mantendo o ar em uma temperatura estável durante dia e a noite.
Visita e Exposição
A visita à fortaleza é controlada, sendo em alguns dias permitidos apenas famílias e a outros apenas homens, como é comum em quase todos os estabelecimentos sauditas.
Dentro da fortaleza é possível passear livremente entre diversas exposições que detalham a criação da Arábia Saudita, assim como seus costumes, roupas e principalmente equipamentos militares utilizados em seus eventos.
A visita é gratuita e a fortaleza está aberta nos seguintes horários
dias | Manha (09:00 – 12:00) | Tarde (16:00 – 21:00) |
Dom, Ter, Quinta | Homens | Homens |
Segunda, Quarta | Famílias | Famílias |
Sexta | Fechado | Famílias (16:00-19:30) |
Sábado | Homens | Famílias (16:00-19:30) |