Um verdadeiro castelo medieval
Se imagine caminhando por uma densa floresta alemã com uma leve névoa passando pelos seus pés. Após caminhar por 40 minutos, sempre com uma linda vista para um vale, você vira uma esquina e lá está ele: o castelo de Eltz, a não mais do que 400 metros. É de tirar o fôlego! Ainda mais quando se percebe que muito do que se tem em vista é quase o mesmo que se veria nos últimos 600 anos. Ou seja, você caminha e observa um verdadeiro castelo no mesmo local por onde os seus antigos cavaleiros passavam.
O castelo de Eltz é único, tanto por ter se mantido durante séculos intocado por guerras, já que a família que o domina sempre foi muito hábil na arte da diplomacia, quanto pelo fato de que esta mesma família ainda é a legítima dona do castelo por mais de 800 anos!
A família Kempenich já está na 33a geração e ainda possui uma residência no Eltz.
O castelo em si se encontra no meio de um vale cercado pelo rio também de nome Eltz. É fácil perceber que essa localização dá ao castelo uma ótima posição defensiva, apesar de estar abaixo dos morros que criam o vale. O que cria um clima mais agradável é o fato de que não existem prédios modernos nos arredores.
Porém, mais do que em uma posição defensiva, o castelo está em uma posição estratégica, o que permitia arrecadar taxas do comércio do rio Mosel e sua conexão com as férteis regiões montanhosas de Eifel.
Inicialmente o castelo foi construído por três grupos diferentes da mesma família. Eles eram o ramo do Leão de Ouro (Kempenich), o do Leão de Prata e o do Chifres de Búfalo.
Durante séculos, as três famílias construíram praticamente três castelos dentro da mesma estrutura e isso é facilmente perceptível pois o castelo se divide em seu inteiro entre diferentes estilos.
Foi apenas em 1815 que o ramo do Leão de Prata conseguiu comprar a parte do ramo do Leão de Ouro, e se tornaram os únicos donos do castelo (o ramo do Chifres de Búfalo já havia se extinguido e sua participação passou para as outras duas casas).
Um ponto interessante da arquitetura do castelo é a pequena capela que, como em muitos castelos, fica despontada para fora do prédio. O motivo disso é que ninguém poderia ter seus aposentos acima da morada de Deus. Sendo assim, caso a capela tivesse que ser construída em um andar mais baixo, ela se projetava para o exterior de maneira que não houvesse nada além do céu acima dessa.
Infelizmente a visita ao interior do castelo é feita somente através de uma visita guiada em inglês ou alemão com diversas saídas diárias.
Logo na entrada você ganha, ao adquirir o ingresso, uma brochura com tradução em português, espanhol, e outras línguas, para acompanhar o tour caso não fale inglês ou alemão.
Durante a visita se tem muitos detalhes, tanto da interessante história do castelo e sua família, quanto do cotidiano em um castelo.
Guerras e sobrevivência:
Diferente da maioria dos castelos, o Burg (castelo) Eltz conseguiu sobreviver por mais de 800 anos com pouquíssimas batalhas. Isso se deve ao brilhantismo da família que o dominava, já que com alianças, casamentos e muita diplomacia, sempre soube conduzir o castelo e seus interesses ao longo dos conflitos.
Até mesmo durante as guerras palatinas, quando os franceses deram ordens de destruir quase todos os castelos e fortalezas a fim de negar aos seus inimigos pontos estratégicos, o castelo foi poupado, já que um dos membros da família era oficial nos exércitos franceses e habilmente apagou o nome do castelo de todos os documentos franceses que o marcavam para destruição.
Ainda assim o castelo participou de pequenos combates e de um grande cerco que durou de 1331 a 1336, quando o castelo foi sitiado pelo bispo de Trier.
Esse sítio foi interessante, já que pela primeira vez se deu uso de canhões no norte da Europa.
Após os canhões falharem em destruir a fortificação, o bispo construiu uma torre de cerco em frente ao castelo em um dos morros que formam o vale, de onde se utilizou de catapultas para bombardear o castelo por anos.
Em 1336, o castelo capitulou e além das compensações habituais pela derrota, teve que destruir a maior parte das suas fortificações externas.
The Knights Hall: Suits of Armour and Jester’s Masks © Roland Rossner/Deutsche Stiftung DenkmalschutzThe Knights Hall: Suits of Armour and Jester’s Masks © Roland Rossner/Deutsche Stiftung Denkmalschutz
Exposição do tesouro do castelo
Após terminar o passeio guiado, você tem a opção (incluída no ticket) de conhecer a exposição do tesouro do castelo! Uma coleção com mais de 500 peças de diversos períodos, principalmente em ouro, prata e porcelana. As peças são em sua maioria de origem alemã.
A peça mais famosa da exposição é na verdade um drinking game (jogo de bebida). Um brinquedo com a deusa da caça Diana que se movia pela mesa e onde parasse a pessoa mais próxima teria que virar a bebida, isso por volta de 1600.
Diana, a deusa da caça com um jogo de bebida © Dieter Ritzenhofen, Münstermaifeld
Existe muito mais a se escrever sobre esse magnífico castelo e um dia o farei, porém por agora acho que já dá para ter um gostinho.
Como chegar e outros detalhes:
- Indico que se vá de carro até o estacionamento do castelo e de lá, se a saúde permitir, caminhe os 40 minutos (fizemos em menos de 30) pela floresta até o castelo, andando devagar e apreciando a vista.
- Caso prefira, é possível ir de ônibus do estacionamento até o castelo.
- O castelo abre diariamente das 09:30 às 17:30 de 29 de março a 01 de novembro.
- A entrada custa €9,00 para adultos e inclui visita guiada ao castelo e entrada na exposição do tesouro do castelo Eltz. Atenção! Não aceitam cartão de crédito! Tem que ser em dinheiro e não há caixa eletrônico ao redor.