O clima mais desértico ajuda, e por alguns minutos me sinto como se eu tivesse sido transportado ao Oriente médio. O palácio de Aljafería é tudo o que se pode imaginar de uma palácio fortificado islâmico, inclusive sendo muito similar aos castelos árabes construídos na Síria nos séculos VI e VII.
O palácio de Alijaferia é hoje uma testemunha dos mais de 800 anos em que os reinos muçulmanos dominaram a península Ibérica em quase sua totalidade e permanece como o único exemplo de edifício de arquitetura islâmica do período dos Taifas.
Taiffas é o nome que se dá aos pequenos reinos criados depois da divisão do Califado de Córdoba, que incluía a maior parte da península ibérica, inclusive todo Portugal.
Foi o Rei da Taifa de Zaragoza, Al-Muqtadir (que significa “o poderoso”, seu nome era na verdade Abú Ya’far Ahmad ibn Sulaymán al-Muqtadir Billah) quem construiu a Aljafería como seu palácio no século XI, e o nomeou como Qasr al-Surur ou Palácio da Alegria.
Seu objetivo era construir um centro de encontro de filosofia, artes e cultura.
Al-Muqtadir foi o responsável pelo apogeu cultural e científico do reino de Zaragoza e se considerava um poeta, astrônomo e matemático.
Infelizmente sua dinastia controlou por pouco tempo o palácio, já que em 1118 foi tomada por Alfonso I de Aragón (o Batalhador), que transformou o edifício no palácio para os reis católicos de Aragon (e principal ponto de difusão de arquitetura Mudejar até 1492 quando após reformas se transformou no palácio para os reis católicos da Espanha).
Fato interessante: a reforma foi realizada por descendentes dos muçulmanos que se estabeleceram na Espanha após a reconquista.
A Aljafería durante toda sua história possuiu diferentes funções: fortaleza, palácio e castelo, e ainda hoje guarda componentes de todas estas fases.
A parte mais antiga que ainda pode ser vista é a Torre do Trovador, uma torre de defesa que serviu a muitos propósitos pelos séculos. Entre eles, foi uma das prisões da inquisição espanhola a partir de 1485.
Ainda é possível ver os grafites deixados por prisioneiros de diversos períodos, já que a torre voltou a ser prisão nos séculos XVIII e XIX.
A arte que mais me chamou a atenção de todo o complexo foi, sem dúvida, o seu segundo pátio ou pátio da Santa Izabel, que contém a maior parte dos restos do palácio Taifal.
É incrível caminhar por este pátio. Os diversos arcos possuem trabalhos com detalhes muito além do que tive prazer de ver em qualquer outro castelo Europeu da época.
Foi junto a estes arcos que o antigo rei Taifal tinha seu trono.
Passando por um arco ferradura se descobre que a antiga mesquita ainda existe.
Além do salão de mármore e seus arcos, o jardim em si é uma obra de arte. Nele, correm pequenos canais que visavam resfriar o ambiente permitindo que mesmo no verão se utilizasse ao máximo a área.
Seguindo adiante se conhece mais quartos do palácio Taifal, e após se chega no salão do trono dos reis Católicos.
Os guias costumam comentar que foi aqui que Cristóvão Colombo recebeu a confirmação de que a coroa espanhola iria financiar sua viagem exploratória. Infelizmente não consegui encontrar nenhuma fonte que desse suporte a essa afirmação, porém como Cristóvão Colombo foi recebido diversas vezes pela Rainha Isabel a partir de 1486, enquanto buscava auxílio financeiro da coroa para sua agora famosa expedição, é bem possível que em algum momento ele tenha se encontrado com a Rainha Isabel nestes aposentos.
A visitação do palácio somente é possível com pagamento de ingresso e a maior parte somente é acessível realizando um tour guiado (em inglês ou espanhol) – indico bastante já que as explicações são excelentes.