Castelos, Palácios e Fortalezas: Na Alemanha e no Mundo

Castelo de Schönburg: um hotel de luxo em um castelo medieval

Visitando o incrível castelo hotel de Schoenburg, no rio Reno

Para os que sonham em passar uma noite em um castelo na Alemanha com seus próprios jardins privados, o castelo-hotel Schönburg (também se escreve castelo de Schoenburg) é a realização deste sonho.

Quando se chega à cidade de Oberwesel é impossível não notar o imponente castelo no alto das rochas sobre a cidade nas encostas do Reno.

Rio Reno com o Schoenburg ao fundo. Fonte: Castelo Schonburg.

Ao se aproximar do castelo, além da beleza do caminho sinuoso pelos rochedos, tem-se a agradável surpresa de passar de carro por uma pequena ponte de madeira. É um daqueles momentos em que você para e pensa se realmente deveria estar ali. Felizmente o estacionamento fica do outro lado da ponte e, ela é sim, feita para a passagem de carros (ufa…).

Metade do castelo está aberta à visitação e na outra metade, onde muito do castelo original foi renovado, encontra-se o incrível hotel de Schönburg. 

A metade aberta para visitação possui um museu e em sua maioria as ruínas do castelo.  Quanto ao hotel fomos calorosamente recebidos pelo Hermann que já na terceira geração, é o mais novo dos administradores do castelo. E sim, eles vivem no castelo e sabem o quanto isso é incrível!

Então se prepare por que além de mostrar esse incrível castelo e sua história, vou ter o prazer de apresentar este inesquecível hotel!!

A história do Castelo de Schönburg

Pouco se sabe sobre as motivações para se erguerem as primeiras estruturas de um castelo no séc. XI, porém pressupõe-se que era necessário como posto avançado para o imperador Henry II do Sacro Império Romano Germânico. Fato é que já nesta época, Otto de Schonenburg possuía o título de oficial real de “ministerialis regis“. Logo em seguida, por volta de 1148 o castelo foi palco de uma cruel disputa por título, onde o Conde Palatino (Comes Palatinus) de Stahleck manteve preso o filho de seu antecessor (Otto von Rheineck), sem comida, na torre-prisão do castelo até que em um ato de “caridade” ordenou seu estrangulamento.

O próprio imperador Frederico Barbarossa esteve no castelo, no qual se hospedou algumas vezes, e o castelo possui uma torre em sua honra, a torre Barbarossa.

TORRE BARBAROSSA

Em 1152, o imperador decidiu que o castelo e região (já famosos pelos seus vinhos) deveriam passar diretamente para o seu controle. Apesar de ser compensando regiamente pela perda do castelo e região, o próprio Papa Alexandre interveio pedindo para que a região voltasse a estar sobre a influência da igreja, a lenda diz que a Igreja muito apreciava os vinhos da região.

Logo em seguida, as disputas entre a Família Shonenburg e a igreja se intensificaram. Em determinado momento, monges da Igreja de Nossa Senhora que não aceitavam suas diretrizes, foram trancados em uma de suas torres, em uma afronta direta à Igreja. Aparentemente a agressividade se pagou, já que a igreja entrou em acordo com a família Shonenburg que previa condições favoráveis aos mesmos quanto à taxação e controle da terra.

CASTELOS DO RENO CASTELO SCHÖNBURG 

Devido ao sistema hereditário, pelo qual o castelo passava a todos os herdeiros e não apenas ao mais velho, o castelo passou a ser lar de oito ramificações da família Schonenburg ao mesmo tempo, em 1313. Tentativas foram feitas de se manter a paz entre as famílias, criando casamentos entre elas. Porém em 1342, a situação se tornou insuportável: com 26 cavalheiros e seu pessoal, e mais de 240 pessoas dividindo o castelo, uma discussão levou ao derramamento de sangue entre as famílias e uma batalha entre os diversos cavaleiros dentro do castelo.

Dois dos cavaleiros foram mortos e com a situação ainda tensa, Balduin de Trier negociou um acordo de paz através do qual foi decidido que um acordo seria firmado entre os 24 cavaleiros restantes residentes do castelo. É claro que o estranho acordo não foi respeitado e muitos assassinatos continuaram acontecendo dentro do castelo.

Durante a Reforma de Lutero, a região também entrou em ebulição com diversas pequenas revoltas promovidas por fazendeiros. O Eleitores de Trier e Colônia se reuniram na cidade abaixo do castelo, na época já chamada de Oberwesel, onde decidiram enviar um contingente para apaziguar a região. Ao final das batalhas em toda esta região do Reno mais de 100.000 fazendeiros foram mortos por estas tropas.

“Portugal também tem uma conexão com este castelo e sua família. Em 1660, Friedrich Hermann von Schönburg (em Português, Frederico Armando de Schomberg) se tornou general de campo de Portugal, com o dever de auxiliar na reorganização das tropas portuguesas que, em qualidade e números inferiores aos Espanhóis, estavam combatendo na Guerra da Restauração. Frederico participou ativamente nas batalhas de Ameixal e na decisiva Batalha de Montes Claros na qual Portugal conseguiu sua independência da Espanha.”

Frederico havia antes prestado valorosos serviços ao Rei Luís XIV, o qual lhe prometeu grandes títulos caso se convertesse ao Catolicismo. Ao recusar-se a fazê-lo, mudou-se para Portugal. Posteriormente, ele retornaria a serviço de Luís XIV, sendo honrado diversas vezes em Versailles, tendo inclusive liderado as tropas francesas na invasão e ocupação de Luxemburgo onde em seguida foi destituído de suas honras.

ENTRADA CASTELO SCHÖNBURG

Além do Rei da França, ele ainda lutou pelos Prussianos e por William Príncipe de Orange na Inglaterra. Com umas história digna de tantas honras, é interessante saber que acabou seus dias também em um campo de batalha na Irlanda, onde está enterrado, na Catedral de St. Patrick, em Dublin.

A grande destruição veio pelas mãos dos franceses que dominaram o castelo em 1689, pelas tropas de ninguém menos do que Luís XIV.

Em seguida, em 1719, falece o último filho da casa Schonenberg e com isso o castelo ficaria em ruínas por mais de um século, até que um americano de origem alemã, Oakley Rhinelander, o comprou e a grandes custos reformou o castelo.

Em 1957, após ter sido recomprado pela cidade -e para nossa grande sorte – o castelo foi transformado em um hotel e restaurante. Interessantemente o hotel foi passado à família Hüttl que já está na terceira geração administrando o hotel e cujo mais jovem membro nos guiou em um passeio privado pelo castelo.

Ainda é um prato cheio para estudiosos e curiosos

O castelo ainda é cheio de mistérios e por vezes em pequenas reformas se encontram artefatos que foram escondidos em sua estrutura. Dois interessantes exemplos são um sabre turco encontrado durante a reforma para o uso do castelo como hotel e uma burguinhota (tipo de capacete) encontrado durante obras que foram feitas para se abrir uma janela na cozinha.

Cenário perfeito para um jantar romântico. Fonte: Castelo Schoenburg.

Guerra dos 30 anos (1618-1648)

O castelo de Schönburg foi utilizado ativamente como base durante a Guerra dos 30 Anos e inclusive foi o ponto de apoio para uma das investidas menos bem sucedidas da guerra, quando 300 Espanhóis foram convencidos que seria possível em um ataque surpresa tomar a fortaleza de Rheinfels, que desde esta época já era uma das maiores e mais poderosas fortalezas da região.

Quando se conhece a fortaleza de Rheinfels, pode-se imaginar que tal ideia é completamente descabida e fica em mim a surpresa de saber da coragem destes homens que foram prontamente recebidos a tiros de canhões e retornaram ao castelo pouquíssimo tempo depois de partirem.

O castelo de fato contava com um vasto arsenal incluindo cinco canhões durante esta guerra. Felizmente devido a ótimas conexões da família Schonberg, o castelo passou por apenas curtos combates que não lhe desfiguraram.

Outra fortaleza que teve um papel nesta guerra foi a fortaleza de Domitz  que já visitamos.

Refeição em local mais que especial, vista incrível, momento único. Fonte: Castelo Schoenburg.

Em tempos Romanos

Na base do castelo encontra-se um cemitério romano, uma lembrança dos tempos em que esta região fazia parte do Limes do Império Romano com os bárbaros germânicos.

Julia Avita Mamaea, mãe e regente do imperador Romano Alexander Severus, foi assassinada na região por legiões romanas descontentes e ainda hoje está enterrada aqui.

A lenda das 7 virgens

Conta se que no castelo de Schönburg viviam sete lindas damas que se recusavam a casar com seus muitos pretendentes. Cavaleiros, duques e príncipes se admiravam com suas beleza e lhe propunham casamento. A todos, independente de beleza ou títulos, as 7 damas rejeitavam, pois amavam a sua liberdade acima de todas as coisas.

De muitas maneiras, a lenda é contada e o que se tem em comum é que em um determinado dia elas foram forçadas a tomar uma decisão e não havendo opção, decidiram fugir.

Conseguiram um pequeno barco com a qual planejavam cruzar o rio em frente ao castelo e continuar sua fuga. Infelizmente o destino não lhes sorriu, já que ainda na primeira curva do rio as risadas e sorrisos das belas damas se transformaram em gritos de desespero e socorro quando uma tempestade virou seu barco.

As belas damas de Schönburg foram levadas ao fundo do rio, e no local onde perderam suas vidas, sete rochas despontaram do rio como uma lembrança de suas vidas perdidas (e um aviso a todas as damas do reino).

Muitos nomes

A região, o castelo e a família possuem muitos nomes que se modificaram com o passar dos anos.

“Alguns dos nomes pelos quais os castelos e a família são conhecidos são Schönburg , Schönberg , Schonenberg, Schonburg ou Schomberg.”

O hotel no Castelo de Schönburg

Por onde começar? Suas lindas salas de jantar nas torres onde o imperador Barbarossa se hospedava? Seus imensos jardins com livros e cabanas à disposição dos hóspedes? Ou seus quartos decorados com os mais belos móveis e decorações com séculos de história? Chega a ser difícil saber o que escrever primeiro.

Um dos espaços reservados para refeições. Fonte: Castelo Schoenburg

Vamos ao coração de qualquer hotel: os quartos!

Com apenas 25 quartos, o hotel tem um ar bem aconchegante e o mais legal é que os quartos são todos únicos, pois nenhum deles possui a mesma decoração ou desenho.

Em nossa visita aproveitamos para conhecer alguns que não estavam ocupados ainda. Tirei algumas fotos porém o próprio hotel me forneceu outras com melhor qualidade.

Alguns dos quartos se encontram nas torres e proporcionam vistas de tirar o fôlego, em suas varandas privativas. Outros se espalham pelo castelo com vistas para seus jardins ou para o vale do rio Reno.

Todos os quartos são decorados com móveis históricos comprados durante as viagens da família Hüttl, o que dá a cada um deles um caráter próprio.

Eu realmente recomendo dar uma boa olhada nas fotos de cada um dos quartos já que experiência de ficar em cada um deles será bastante diferente.

Quarto do hotel no castelo Schoenburg. Fonte: castelo Schoenburg.
Quarto do hotel no castelo Schoenburg. Fonte: castelo Schoenburg.

O jardim do castelo hotel

Depois de tomarmos um café no salão central, nos foi dada uma chave que dá acesso ao jardim privado do castelo. Este jardim somente é acessível aos hóspedes do castelo.

Existe algo mágico em se entrar em um jardim tão bem cuidado, planejado para ser explorado mais do que visitado. As placas indicam pouco, deixando o hóspede no papel de explorador, encontrando cavernas com gnomos e pequenas cabanas com confortáveis cadeiras e estantes cheias de livros ou uma luxuosa casa na árvore com uma varanda com vista para o castelo e o rio Reno.

Além das estátuas, cabanas e capelas espalhadas pelos jardins, é possível jogar xadrez com peças gigantes ou relaxar com a vista para o rio Reno.

Durante nossa visita havia apenas alguns poucos casais nos jardins e nos sentimos como os donos do local, podendo aproveitar de cada uma de suas peculiaridades. O tempo voou enquanto estávamos lá e sem perceber passamos mais de 2 horas caminhando por estes jardins.

Um dos refúgios no jardim do castelo. Fonte: Castelo Schoenburg.

Salas de jantar e café da manhã do castelo hotel Schönburg

Pelo hotel se espalham diversas salas que podem ser utilizadas de maneira privada ou dependendo da época do ano são alternadas entre locais de café da manhã ou jantar.

Kaminzimmer – Foto Gerd Spans

Algumas delas oferecem vistas imbatíveis para o vale do Reno e as plantações de uvas em suas encostas.

Chega a soar como tolice escrever isso, porém não há como não indicar fortemente que se hospede neste hotel, e a passar um entardecer saboreando um vinho da região, sentado em uma dessas varandas.

Café-da-manhã com rio Reno e cruzeiro ao fundo. Fonte: castelo Schoenburg.

Em resumo, este é um dos, senão o melhor, hotel em um castelo que já visitei, com um ar luxuoso e buscando preservar sempre a privacidade dos hóspedes, você será extremamente bem tratado.

A torre da prisão

Algo muito diferente dos filmes – nos quais os prisioneiros eram mantidos nas catacumbas – as torres era utilizadas com esta finalidade, pois ofereciam grande proteção contra fugas.  O prisioneiro que ficaria em sua base teria a comida e água baixadas a eles por meio de cabos.

Você pode ter o prazer de jantar no mesmo local onde se mantinham prisioneiros, hoje um romântico ambiente iluminado a velas. Antes que eu estrague seu apetite, saiba que esta torre ainda não existia quando o conde palatino tentou matar de inanição o filho de seu concorrente.

O castelo como estrutura defensiva

O castelo está em uma posição perfeita para sua proteção, sendo o acesso possível somente por um de seus lados e em todos os outros sendo cercado por penhascos.

O caminho, que desde o século XI levava ao interior do castelo, permanece o mesmo e tem o interessante nome de “Elfenley” ou “caminho dos elfos”.

Na entrada, passando por uma das torres, chegar-se-ia a um dos mais antigos portculis da Alemanha (rastrilho) datado do séc. XI.

Apesar de ter sido uma ruína por quase 200 anos, alguns de seus muros sobreviveram até hoje. É o caso do shield wall ou Schildmauer* do castelo, erguido em torno de 1320 como defesa ao incipiente uso da pólvora. Além das muralhas, muitas das torres ainda estão de pé, como é o caso da torre do Barbarossa.

Castelo Schoenburg. Fonte: castelo Schoenburg.

Fontes:

History of Schönburg Castle – Jochen von Osterroth

Notas: Shield wall ou Schildmauer* infelizmente ainda não encontrei tradução apropriada, porém seria uma muralha mais alta que visa dar maior proteção a um dos lados do castelo.

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