Castelos, Palácios e Fortalezas: Na Alemanha e no Mundo

Castelo de Montjuïc – A fortaleza inimiga de Barcelona

Entrada do castelo de Montjuïc.

Eu costumo visitar Barcelona pelo menos três vezes ao ano a trabalho e tenho uma história pessoal com a cidade, já que foi nela que tive minha primeira missão comercial no exterior (fora da Alemanha ou Brasil).

Animado em finalmente conhecer a fortaleza de Montjuïc.

Falar que Barcelona é encantadora é chover no molhado, a região não podia ser mais rica em história, tendo sido conquistada de Cartago pelo romanos e tendo passado por  muito do que conhecemos da história européia.

Jardim na entrada do castelo de Montjuic

E é claro que em todas as minhas visitas, sempre me chamou a atenção aquele pontinho no alto do morro mais alto de Barcelona. Infelizmente visitei barcelona mais de 6 vezes a trabalho antes que eu pudesse ter tempo de visitar o castelo de Montjuïc.

Caso você vá à Barcelona, mesmo que uma única vez, não cometa o mesmo erro que eu e não deixe de visitar a fortaleza, seja pela história ou a incrível vista da cidade, será uma visita inesquecível.

152 mm Vickers – em perfeito estado.
305 mm Obus – Essas são armas mais modernas e nunca atiraram contra a cidade.

Uma fortaleza com uma história um tanto quanto… diferente.

A grande maioria das fortalezas e castelos que visitei tem como seu propósito proteger a cidade que nela habita…mas não a de Barcelona.

A história da fortaleza de Montjuic é pontilhada de embates: alguns para proteger a cidade e seus cidadãos, e muitos para lhes combater, quebrar sua moral e muitas vezes bombardear a própria cidade do alto de sua colina.

Bombardeio de Barcelona

Pode ser somente meu ponto de vista, porém para mim existe algo de diferente em saber que uma fortaleza não somente esteve em muitas batalhas, mas que desse ponto a cidade abaixo foi bombardeada diversas vezes ao bel prazer dos militares que nela se acomodavam, em ataques realizados não por tropas inimigas, mas por de seu próprio estado (de uma maneira ou de outra, pertence à Espanha).

A relação Catalunha-Espanha é sem dúvida um assunto muito complexo que não creio ter conhecimento para abordar. Digo apenas que além de complexo, é um tema que há centenas de anos tira vidas e gera insegurança a essa cidade.

Montjuic “Monte de los judíos

Montjuic é o nome do morro que se encontra à esquerda de Barcelona (com as costas ao mar), no sudoeste da cidade.

Seu lado virado para o (hoje) porto é um penhasco quase vertical, enquanto seu topo é bastante plano.

Seu nome vem de “Monte de los judíos” ou monte dos judeus, já que era aqui que os judeus tinham seu cemitério no passado.

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Castelo de Montjuic – Um pouco da história

Os primeiros registros de uma construção em Montjuic são de 1073,  quando se registra a existência de um farol operado por um marinheiro.

Devido a ótima posição, esse também atuava como torre de vigia para a cidade como objetivo de a alertar em caso de navios inimigos, exércitos ou sinais de guerra  se utilizando de flâmulas durante o dia e fogueiras à noite (a la Gondor is calling for help).

Visão privilegiada da cidade.

A militarização desse farol se deu muito depois, no início da Revolta Catalã ou Guerra dos Segadores 1640-1652 (revolta da Catalunha contra as tropas do resto da Espanha que, nesse momento, lutavam contra os franceses na guerra dos 30 anos), quando em 30 dias se construiu um pequeno forte em formato quadrado ao redor do farol.

Como resultado da revolta, a Catalunha tornou-se uma república por um breve período de tempo.

Entrada em curva para dificultar a entrada de atacantes e permitir o fogo cruzado.

Alguns dias após sua construção, ocorreu o batismo de fogo, quando as tropas catalãs combateram contra 26.000 soldados espanhóis na chamada Batalha de Montjuic, com vitória da Catalunha.

Após o sucesso inicial, e sabendo que não seria possível resistir aos ataques espanhóis sozinho, foi dada a soberania da região da Catalunha ao inimigo da Espanha, o rei da França Luis XIII, que ganhou o título de Conde de Barcelona.

Porém, mesmo com suporte dos franceses, não foi possível manter Barcelona fora do controle dos espanhóis; que a recapturaram em 1652 e assim a mantiveram sob controle, já que conseguiram empurrar a fronteira do conflito para os Pirineus.

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Durante a Guerra dos Nove Anos (1688–97) toda a região de Montjuic foi completamente fortificada com a intenção de proteger a região e, é claro, manter a população sob controle.

Imediatamente após a expansão do sistema da estrutura de defesa, o castelo foi palco de inúmeros combates, cercos e bombardeios navais durante a Guerra da Sucessão Espanhola (1701–1714), onde a região mudou de mãos por diversas vezes.

Um dos combates mais marcantes foi quando as tropas de Filipe V, da Casa de Bourbon, retomou o castelo, após um pesado bombardeio naval por parte da sua frota. Após a tomada do castelo ter sido concretizada por suas tropas terrestres, este voltou os canhões da fortaleza à cidade e iniciou o bombardeio da mesma até a chegada de tropas de Carlos III, quando as tropas de Filipe V foram obrigadas a abandonar o castelo.

Arquitetura da fortificação

Em 1751 os espanhóis (Eng. Juan Martín Cermeño) destruíram a fortaleza existente e a reconstruíram com um design mais moderno. Esse é o design que hoje em grande parte se vê sobre Montjuic com vista para Barcelona.

Pátio central de Montjuïc.

Esse design tinha como objetivo copiar os avanços tecnológicos do chamado desenho de forte-estrela  (nome correto é fortificação em estrela ou traçado italiano – eu prefiro chamar de forte-estrela).

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Exemplo de um forte-Estrela ou traçado italiano – NÃO é Montjuic.

Depois desta reforma o castelo de Montjuic ganhou a capacidade de manter uma guarnição de até 3.000 homens e inicialmente 120 canhões (esse número aumentaria depois).

Miniatura da fortaleza.

Durante as guerras napoleônicas em 1808 a fortaleza foi tomada por um pequeno destacamento francês sem nenhum combate. Isso porque a própria corte espanhola deu as ordens para não se dar combate aos franceses.

Planta do castelo, com posicionamento dos canhões.

Os primeiros bombardeios à cidade

Em 1842 a fortaleza começou a ganhar sua triste fama em relação à cidade. Como punição por uma revolta popular contra o que era percebido pelos revoltosos como um governo repressor e tirânico, bombardeou a cidade indiscriminadamente por doze horas consecutivas, gerando imenso estrago estrutural e mais de 20 mortos.

Em 1843 se deu o mesmo, porém dessa vez o bombardeio durou mais de dois messes – de 7 de setembro até 10 de novembro, onde mais de 40 mil pessoas tiveram que fugir da cidade e centenas foram mortas e feridas.

Em 1856, novamente, a cidade foi bombardeada…

Bombardeio de Barcelona

Foi nessa época que o general responsável pelos bombardeios de 42 e 43 declarou «a Barcelona hay que bombardear la al menos una vez cada 50 años»

“A Barcelona deve ser bombardeada ao menos uma vez a cada 50 anos” Baldomero Espartero

“O castelo maldito” – A fortaleza como prisão no século XX

Além de ter bombardeado a  cidade por diversas vezes, o castelo de Montjuïc ficou ainda mais marcado de maneira triste na história de Barcelona, pela repressão aos desejos do povo catalão, e ganhou o nome de “Castelo Maldito”.

Entre 1893 e 1922 a fortaleza foi utilizada para manter dissidentes políticos e revoltosos para a execução, já que a cidade vivia um momento de revolta.

Fosso de Santa Helena, local onde se davam as execuções em Montjuïc.

Porém foi mesmo durante a triste Guerra Civil Espanhola que o caráter macabro de centro de tortura e execução foi definitivamente impresso no castelo.

Durante a Guerra Civil, o castelo passou pelas mãos dos dois lados do conflito e foi utilizado por ambos como centro de tortura prisão e execução de prisioneiros.

Centenas de pessoas de todas as classes sociais foram executadas aqui e em 1938 mais de 1.900 presos eram mantidos em condições terríveis.

Foi nessa época que escreveu Joseph Kessel:

“Essa fortaleza é para Barcelona o que era a Bastilha para Paris, ou São Pedro e São Pablo para São Petesburgo. Ao mesmo tempo cidadela e prisão, tem guardado atrás de suas muralhas e fossos uma silhueta feudal….” (traduzido do espanhol)

Após o final da Guerra Civil, já nas mãos de Franco, o castelo ainda teve mais um momento marcante, onde foi o local de execução do presidente da Catalunha durante a Guerra Civil.

Lluís Companys havia se refugiado após a Guerra Civil na França, porém quando esta caiu nas mãos dos alemães, não pode fugir, pois tinha seu filho em um hospital devido à complicada doença.

Por esta razão foi capturado pela Gestapo que o enviou a Madrid para ser torturado e julgado, e de lá levado a Montjuïc, onde foi fuzilado.

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Canhões.

Pierre Mechain

Existe uma torre no alto da fortaleza que foi utilizada por Pierre Mechain para observações astronômicas, e também foi utilizada no processo de desenvolvimento do sistema métrico.

Torre utilizada por Pierre Mechain.

Exposições

Em 2016, parte da fortaleza está sendo utilizada como museu para achados arqueogeológicos romanos.

Vestígio romanos encontrados no local.

A história da fortaleza é bem detalhada em vídeos e maquetes no museu em seu interior.

História recente e uso atual

Ao fim da Guerra Civil, Franco decidiu por criar um museu da guerra no castelo de Montjuic, mas com o castelo sendo passado ao governo local da Catalunha, o museu foi convertido em  2009 em um museu aberto com exposições sobre história da fortaleza, assim como do Montjuïc  e de Barcelona.

Existem planos de criar em um futuro próximo o “Centro de la Paz” para afinal colocar em paz toda a história turbulenta do “Castelo Maldito”.

Quer conhecer mais sobre Barcelona e a região da montanha do Montjuic?

A Cristina do blog Sol de Barcelona tem posts incríveis sobre a cidade além de entender muito de história.

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